quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A AMARRIBO e a Força das ONGs

José Chizzotti, vice-presidente da AMARRIBO Brasil
Fonte:  AMARRIBO (Foto: Ricardo Bastos)

“Se nós conseguíssemos derrotar a corrupção nos municípios, o que é mais fácil por se tratar de uma célula política menor, nós acabaríamos com a corrupção no Brasil”. A afirmação é de José Chizzotti. Há 15 anos ele fundou a Amarribo, Associação dos Amigos de Ribeirão Bonito, ao lado de conterrâneos da pequena cidade do interior paulista.

Eram Chizzotti, que é advogado, mais um médico, um administrador de empresas, um economista, um contabilista e um engenheiro, todos cidadãos que, quando jovens, deixaram Ribeirão Bonito para alcançar o sucesso profissional na capital. A ideia era ajudar o município a desenvolver-se social, econômica e culturalmente, mas a realidade com que se depararam na cidade natal fez com que a AMARRIBO enveredasse pelo caminho da luta contra a corrupção. O êxito nessa empreitada, cujos passos iniciais são relatados a seguir, fez com que a entidade original crescesse e se tornasse a AMARRIBO Brasil, rede a reunir quase 200 organizações não-governamentais de combate à corrupção e que representa a Transparência Internacional no país.

Os integrantes da AMARRIBO descobriram, em 1999, que o então prefeito de Ribeirão Bonito, Francisco de Assis Queiróz, comprava combustível para a frota da Prefeitura de uma empresa de Minas Gerais, sendo que o posto em frente à sede do Executivo municipal vendia o produto mais barato. “Depois, ficamos sabendo da existência de um tanque na fazenda de um vereador em que eles punham metade da gasolina comprada pela Prefeitura, para abastecer os carros da família”, recorda Chizzotti. E não era tudo. “Eles contrataram um açougue de São Carlos para fornecer carne para a merenda das escolas municipais, e para tanto estabeleceram que a carne tinha de ser embalada a vácuo, coisa que os açougues de Ribeirão Bonito não tinham condições de fazer. A licitação já estava direcionada para o açougue de São Carlos. Eles comiam filé mignon e as crianças comiam carne de pescoço. Salsicha era comum na merenda escolar”.

A ação da AMARRIBO foi exemplar e deve servir de guia aos que querem livrar-se de políticos corruptos. Primeiro, a entidade mostrou à população o que estava ocorrendo na cidade. Em seguida, entrou com pedido de instauração de inquérito civil público. “Fizemos requerimento ao Ministério Público, já citando os casos e fornecendo provas dos atos de corrupção, e o MP abriu processo de improbidade administrativa contra o prefeito. Ao mesmo tempo, entramos com processo pedindo a cassação dele à Câmara Municipal”, lembra Chizzotti. E o prefeito foi derrubado por impeachment. “No dia em que foi votada a cassação, havia mais de 2 mil pessoas em frente à Câmara”, recorda.

Depois disso, a Amarribo apurou irregularidades na gestão anterior à de Francisco de Assis Queiróz. Segundo Chizzotti, o então prefeito Sérgio Buzzá cometera “barbaridades” e, após denúncias feitas pela ONG, fugiu e desapareceu. Àquela altura, já relativamente conhecida, a Amarribo foi objeto de reportagem da TV Globo, e o rosto de Buzzá apareceu no Jornal Nacional. Resultado: ele foi reconhecido em Chupinguaia, em Rondônia, denunciado pela população local e preso.

José Chizzotti, hoje vice-presidente da AMARRIBO Brasil, também integra a Comissão de Controle Social dos Gastos Públicos da OAB-SP. Com a experiência de quem foi chefe da Procuradoria do Estado de São Paulo em Brasília e assessor dos ministros do STF Octávio Galloti e Paulo Brossard, além de chefe de gabinete de Brossard quando este foi ministro da Justiça (governo José Sarney), hoje advoga na área do Direito Público, mas nunca contra o Poder Público. “Sou procurador do Estado, acho que não devo advogar contra a o Poder Público por entender que isso seria uma maneira de me macular”, diz. Para ele, “é preciso ter consciência de que a corrupção é o mal que assola o Brasil atualmente” e que, se não combatida, “tornará o país ingovernável”.

Com seu know-how no confronto com corruptos, acredita que derrubar a corrupção em nível municipal surtirá efeito progressivo. “A corrupção tem patamares, e um patamar depende do outro. Normalmente, a corrupção começa com a compra de apoio político do prefeito por autoridades das esferas superiores”, denuncia. Diz não ver este ou aquele partido político, a princípio, como ícone da corrupção, mas sugere: “O partido economicamente mais forte, provavelmente, deve ser o mais corrupto. De onde vem o dinheiro? Esse é o grande problema do Brasil: quem está no poder tem facilidade de cometer atos de corrupção, seja em prefeituras, governos estaduais ou no Governo Federal”.

De outra parte, José Chizzotti elogia a Controladoria Geral da União “como instrumento dentro do Poder Público para combater a corrupção”. Externa “plena confiança” em Jorge Hage, que está à frente do órgão, a quem se refere como “uma pessoa íntegra, sem dúvida”, mas ressalva: “Agora, não posso afirmar que ele esteja conseguindo combater a corrupção”.

O Congresso Internacional de Combate à Corrupção realizado no Brasil, em 2012, pela ONG de Ribeirão Bonito e pela Controladoria Geral da União reuniu mais de mil pessoas de todos os países representados na Transparência Internacional. O livro “O Combate à Corrupção nas Prefeituras do Brasil”, editado pela Amarribo Brasil, está na quinta edição.

Matéria de Paulo Henrique Arantes, dentro da reportagem "A Corrupção Nossa de Cada Dia", publicada na Revista da CAASP / Agosto 2014, disponível em: http://www.caasp.org.br/RevistaDigital/ed12/revista_caasp_12.html

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