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Bolshoy Ice Dome, Sochi (Divulgação) |
Fonte: AMARRIBO Brasil
Os grandes eventos esportivos deveriam ser celebrações de excelência e
motivo de orgulho nacional. Mas não tem sido bem assim. A corrupção está
tomando o espaço das vitórias nas manchetes, e isso não é exclusividade
do Brasil.
Deixando de lado as questões de segurança nas Olimpíadas de Inverno de
Sochi 2014, os custos elevados, a falta de transparência e – e como
resultado disso – as alegações de corrupção é que são as notícias da
vez.
O custo estimado das Olimpíadas de Inverno em Sochi foi de US$ 51
bilhões, sete vezes mais do que nas últimas Olimpíadas de Inverno no
Canadá, US$ 37 bilhões a mais que as Olimpíadas 2012 em Londres, e US$ 8
bilhões a mais que em Beijing 2008.
O orçamento original em Sochi era de
US$ 2,2 bilhões.
De acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI), os custos da
infraestrutura esportiva são de US$ 2,2 bilhões, em conjunto com a
prévia dos Jogos Olímpicos. E esse foi o custo da intraestrutura não
esportiva – como estradas e hotéis – que inflaram.
A Transparência Internacional Rússia está monitorando as informações
que estão disponíveis publicamente sobre os jogos de Sochi. Em um
pequeno
relatório,
a organização observou supostos casos de corrupção, a corrupção
olímpica, incluindo superfaturamentos e suposta atividade criminosa.
A Olympstroy – empresa estatal russa responsável por desenvolver os
Jogos – foi uma das avaliadas pela TI Rússia. No quesito transparência e
medidas contra a corrupção, a empresa marcou 12 de um total de 17
pontos possíveis. No entanto, ela não tem um código de ética e não
divulga relatórios de suas subsidiárias ou informações substanciais
sobre os contratos públicos.
Embora várias
pessoas tenham sido afastadas da empresa,
nenhum caso chegou ao tribunal. O governo russo se prepara para lançar
um relatório de auditoria na primavera sobre os jogos de Sochi e a TI
Rússia vai analisar e comentar este relatório.
Um funcionário do Comitê Olímpico afirmou que a corrupção somou
um terço do superfaturamento em Sochi. Alguns relatórios detalham supostos casos de corrupção e de conflitos de interesses.
Quem é o responsável?
Grandes eventos são de propriedade de organizações, como do Comitê Olímpico (
COI) e da
FIFA
– órgão máximo do futebol mundial. Essas organizações precisam
encontrar cidades e países dispostos a fornecer as instalações, a partir
de estádios para sediar a realização dos eventos.
Quando uma cidade faz uma oferta para um evento, ela descreve como será
o projeto, incluindo todos os trabalhos necessários para a construção
dos estádios até a logística do transporte dos atletas para os
alojamentos.
Os protestos no Brasil e os altos custos e Sochi levaram o COI e a FIFA
a anunciar uma revisão de como eles escolhem uma cidade-sede ou país e
quais critérios precisam ser cumpridos para entregar as obras do evento.
Novas regras
A Transparência Internacional (TI), organização que a AMARRIBO Brasil
representa no país, contribuirá para esta revisão com critérios baseados
nos princípios da transparência e participação das partes interessadas.
A TI quer que a sociedade civil e as pessoas comuns tenham voz nesse
processo. A organização também deseja que medidas anticorrupção
adequadas sejam presentes para impedir a corrupção em todas as fases do
processo. O dinheiro para realizar esses eventos vem dos contribuintes;
qualquer desvio afeta as populações locais.
As preocupações da TI são:
-
Votação para sediar eventos: a FIFA foi criticada pela falta de transparência quando atribuiu a Copa do Mundo de 2018 para a Rússia e para o Qatar, em 2022.
-
Maior atenção as questões relacionadas a terra, direito de propriedade e respeito ao meio ambiente: tanto em Sochi 2014
quanto na Copa 2014 e nas Olimpíadas de 2016 no Brasil, houveram graves
violações de direitos humanos relacionados a essa questão.
A Transparência Internacional publicará os critérios propostos para a
uma consulta pública. A ideia é incentivar o COI e a FIFA para que façam
o mesmo, garantindo o envolvimento sistemático das partes interessadas
na revisão da licitação e nos critérios de hospedagem. Os critérios
também devem levar em conta as novas orientações para a hospitalidade e
patrocínio publicado pelo Pacto Global das Nações Unidas.
Três maneiras de melhorar grandes eventos:
Maior participação dos interessados: a sociedade civil,
organizações internacionais e nacionais, e os cidadãos devem ter uma
maior influência na forma como os principais eventos são atribuídos e
desenvolvidos do início ao fim.
Reforçar critérios para a licitação e concessão: critérios de
licitação devem incluir padrões mínimos de direitos fundamentais,
incluindo os direitos humanos, os direitos dos trabalhadores, e as
proteções ambientais. Os concorrentes também devem comprometer-se a
padrões éticos.
Cumprindo os jogos: é necessário maiores sanções e incentivos
para obrigar os licitantes a cumprirem as promessas assim como constam
nas propostas originais.
Copa do Mundo no Brasil
No Brasil, recentemente, milhares de manifestantes foram às ruas
novamente para protestar contra os custos da Copa do Mundo de 2014, que
começará em junho. Os brasileiros querem que o dinheiro público seja
gasto em educação e saúde, não estádios de futebol.
Os gastos com a Copa do Mundo já sofreram inúmeras alterações e cada
vez as cifras ficam mais altas. De acordo com informações do Ministério
do Esporte, publicadas em novembro, o mundial terá um custo de R$ 25,6
bilhões. A previsão é que o montante seja gasto, além das construções
dos estádios milionários, em mobilidade urbana, portos e aeroportos, em
turismo, nas telecomunicações e em segurança.
O megaevento no Brasil já foi criticado ter os estádios com os assentos
mais caros do mundo. Além disso, alguns hotéis, que recebem
financiamento do BNDES para o Mundial, não ficarão prontos em tempo.
Nesta semana foi divulgada uma pesquisa, do MDA Pesquisa com a
Confederação Nacional do Transporte, que constatou que a maioria dos
entrevistados estão insatisfeitos com a realização do Mundial no País. 4
em cada 5 brasileiros acreditam que os investimentos nos estádios
deveriam ser utilizados em outras áreas. Somente 13% opinaram dizendo
que os valores gastos e empenhados paro evento foram adequados. Além
disso, 85% dos entrevistados acham que durante a Copa do Mundo haverá
manifestações. Entretanto, somente 12% dos participantes da pesquisa
informaram que irão protestar nas ruas no período da Copa.
Há pouco mais de cem dias para o início dos jogos, os estádios ainda
não formam concluídos, assim como as obras de mobilidade urbana e
ampliação dos aeroportos. Por pouco Curitiba não deixou de ser uma das
cidades-sede. Os atrasos nas obras do estádio levaram a FIFA a dar um
ultimato aos responsáveis pela organização da Copa na cidade em 21 de
janeiro. Valcke ameaçou tirar a Copa do município caso as obras não
avançassem de forma significativa. Hoje, a Fifa anunciou que as obras da
Arena da Baixada, palco de quatro jogos no Mundial, atingiram um nível
satisfatório e entenderam que o poder público deu garantias suficientes
de que há dinheiro para terminar a reforma.
Além dos gastos e investimentos, as remoções forçadas têm sido o grande
drama das famílias brasileiras desde o início das obras para a Copa do
Mundo e às Olimpíadas no País. Estima-se que pelo menos 170 mil pessoas
passaram ou estejam passando por despejos relacionados aos eventos, o
que corresponde a quase um em cada mil brasileiros.
Por esses motivos a fiscalização e cobrança dos cidadãos é extremamente
importante para que os eventos deixem algum legado para o Brasil. A
corrupção e a violação de direitos humanos não podem ser admitidas.
Para saber mais sobre o grande evento, é possível buscar informações junto ao
Portal da Copa,
criado pelo governo brasileiro. No site é possível encontrar dados
sobre o andamento das obras nos estádios, os preparativos para a Copa,
assim como a Matriz de Responsabilidades. Além disso, vale a pena
acompanhar o
Projeto Jogos Limpos,
iniciativa do Instituto Ethos, que avalia o nível de transparência das
cidades-sede e ferramentas para ações coletivas de monitoramento e
controle social dos cidadãos sobre os investimentos destinados para a
Copa do Mundo, Olimpíada e Paraolimpíada no Brasil.
Informações para imprensa
Nicole Verillo - nicoleverillo@amarribo.org.br