domingo, 7 de agosto de 2011

Não Matarás - Análise Inicial da Condenação do Médico que Matou o Próprio Cão em Ubatuba


Por Evely Reyes Prado
 
Outro dia li um livro que falava sobre a vida do apóstolo Paulo, antes dele ser um seguidor e propagador da mensagem de Jesus e fiquei perplexa diante de tantos fatos que desconhecia.

Ele era um homem de bem, culto, mas totalmente intransigente e ao observar os primeiros indivíduos convertidos ao Cristianismo, passou a empreender uma batalha permanente a todos que demonstrassem convicção sobre a grandiosidade dos ensinamentos de Jesus.

Foi o responsável direto pelo apedrejamento de Estevão que à época tornou-se o primeiro mártir desta corrente religiosa, difundida de maneira lenta e precavida em consequência de tão acirrada oposição.

Na sincera intenção de servir a Deus, Paulo tornou-se obstinado e passou a ser odiado pelas atitudes radicais que transformaram seu dia-a-dia numa avalanche de inquietação e angústia.

Sua vida deu uma reviravolta algum tempo após ter tomado consciência do mal causado a tanta gente e a partir de então dedicou sua existência à divulgação dos princípios básicos de seu Mestre, entre obstáculos e dificuldades, com a firmeza e persuasão de um verdadeiro homem de fé!

Esses acontecimentos estão muito distantes do tempo em que vivemos, considerando o momento histórico de sua ocorrência. Há, porém as mensagens que se extraem de toda a narrativa, que por atuais são cabíveis de aplicação aos nossos dias.

A vida não deve ser levada de forma tão radical, pois até um bom acordo é passível de existir se não houver a intolerância. Todo fanatismo tende a tornar o individuo completamente inflexível nas suas atitudes, impedindo a manifestação da compaixão e do amor.

Acatar a decisão alheia e entender as diferenças é permitir a eclosão de mudanças, que muitas vezes vêm melhorar a situação vigente.

Pensar ou agir de modo diverso ao da maioria são manifestações que devem ser respeitadas, pois o entendimento do indivíduo em relação ao que o cerca é único e particular dentro de sua biografia. Mas existe uma linha tênue que delimita todos os direitos e que não pode ser ultrapassada sob pena da convivência não acontecer com harmonia e equilíbrio.

O essencial, como dizia Jesus é não fazer ao outro o que não queremos para nós!

O respeito, a beneficência e a justiça são os três princípios éticos fundamentais para que se possa aquilatar qual o nível correspondente de uma sociedade dentro de seu contexto cultural e histórico. Entender essas palavras é estar alicerçado dos princípios para uma convivência plena de consenso com seus pares e com todos os seres que fazem parte deste Planeta.

Acredito não ser suficiente que haja respeito somente em relação ao ser humano porque tudo o que faz parte da Criação está intimamente ligado e no instante em que causamos sofrimento a algum ser vivo estamos emanando energias negativas pelo mundo, que terão um retorno, numa perfeita logica da Lei de Ação e Reação.

Existem aqueles que pensam somente na dor como exclusiva do ser humano e não conseguem associar o mesmo tipo de sofrimento por parte dos animais, ou acreditam serem estes seres inferiores e indignos de atenção.

Toda a agressividade e violência praticada contra um ser, mesmo que não humano também colabora para que a selvageria seja banalizada e passe a ser encarada como um fato corriqueiro, próprio do cotidiano das pessoas. Em razão disso é preciso que haja manifestação contrária diante das atrocidades cometidas contra os bichos, pois não é possível que um indivíduo tenha a capacidade de sentir algum prazer em assistir, compactuar ou praticar crueldades contra os animais e ainda ser considerada uma pessoa normal!

O ato de agredir é a utilização da força, do poder, real ou ameaça contra qualquer ser vivo que possa sofrer lesão, morte, algum dano psicológico ou deficiência. A verdade, por qualquer ângulo que seja vista, é que a violência sempre vai ser violência, independente de quem seja a vitima, e muitos estudos constataram que comportamentos agressivos estão vinculados a determinadas culturas e podem ser apreendidos e reforçados por imitação e impunidade.

Tomando como exemplo recente o caso do médico Fabio Carvalho que espancou sua própria cachorra a golpes de pá até a morte e na sequência usou de artifícios para ocultação do corpo do animal, acredito ter sido muito importante a condenação do autor pelo crime cometido, pois serve de exemplo para ocorrências semelhantes.

A ausência de empatia, sua intransigência em relação ao animal, sua falta de humanidade, a violência e frieza de seu ato criminoso e a incapacidade de sentir culpa pela atrocidade cometida são típicas de uma pessoa que pode desrespeitar qualquer ser humano!

Os protetores, defensores e simpatizantes da causa animal, podem considerar a sentença como uma vitória, apesar da ausência de maior severidade na lei pertinente.

Se as injustiças em relação às pessoas fazem parte do cotidiano desse mundo em que vivemos, é muito mais frequente a opressão e a tirania para com os animais, que sequer tem o poder de defesa diante das barbaridades sofridas.

Fabio Carvalho não entrou no rol dos indivíduos acobertados pela impunidade! Não desejando a produção de provas que certamente poderia culminar em um desfecho pior, não teve outra saída a não ser optar pelo acordo oferecido pelo membro do Ministério Público, conforme disponibiliza a Lei correspondente, que permite ao infrator ter sua pena convertida em prestação de serviços à comunidade.

Quem manifesta interesse em fazer acordo está indiretamente assumindo a autoria do crime pelo qual está sendo acusado.

Comentou o advogado de Fabio Carvalho que era humilhante para o médico ser condenado a prestar serviços gerais no CCZ-Centro de Controle de Zoonoses, uma vez por semana, durante uma hora, mas penso que humilhante mesmo é ser autor de um crime desses!

Pior ainda se for certo o boato de que a cachorra estava prenhe!

Mas, seja de que lado estiver o leitor, a verdade é única: não há justificativa plausível para matar!

Um comentário:

  1. Nem justificativa para maltratar animais, com certeza!

    Esta pena, sim, foi mínima, afinal... merecia bem mais.

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